Como surgem os pecados?

Você certamente já ouviu falar que no velho testamento o consumo de camarão era considerado um pecado. Porém, hoje muitos cristão comem camarão sem nenhum remorso. Porque um pecado surge? E como eles desaparecem? Abaixo eu conto uma história que li no livro O Catequista.

Pense no contexto da época retratada no velho testamento. Naquela época, não se conhecia os argentes alérgicos, predisposições genéticas e nem o conceito de imunidade. O que se sabia era que algumas pessoas nasciam incapazes de comer camarão e outros adquiriam essa incapacidade depois de uma certa idade. Desta forma, os sábios da época proibiram o consumo de camarão. Afinal, era uma medida necessária para salvar vidas.

Para aquela época fazia parte dos planos de Deus que o consumo de camarão fosse proibido. Mas, hoje com os conhecimentos naturais que possuímos, isso não se faz mas necessário e o consumo de camarão não é mais proibido.

Os pecados surgem da necessidade de afastar o homem daquilo que lhe faz mal. Nem tudo é tão simples como a história do camarão. Muitos pecados não possuem explicações tão fáceis como essa.

O que é um pecado capital?

O pecado é o desejo desordenado (vício) a tudo que é perecível.

Foto de Jan Kopřiva no Pexels

Pecados capitais

Os pecados capitais foram sintetizados por São João Cassiano e São Gregório Magno. São eles,

  1. a Soberba
  2. a Avareza
  3. a Inveja
  4. a Ira
  5. a Luxuria
  6. a Gula
  7. a Preguiça

São chamados pecados capitais porque geram outros pecados. Por exemplo, a soberba gera: o Orgulho, a Vaidade, a Arrogância, a Prepotência, a Presunção, a Autossuficiência, a Jactância, etc. Os pecados capitais são apenas um subconjunto de um grupo muito maior de pecados..

Qual o problema em pecar?

O pecado configura vício. E o vício nós torna insensíveis. O jovem que é viciado em pornografia (pecado da luxúria) criar um vício que para se satisfazer exige cada vez mais conteúdo e um material cade vez mais grotesco. O adulto viciado em sexo cria vontades cada vez mais exigentes seja com múltiplos parceiros ou com atividade que podem machucar os indivíduos envolvidos incluindo a se mesmo. Isso acontece porque o excesso de estímulos mata o prazer, e desta formar para sentir prazer o viciado necessita de doses cada vez maiores de estimulo. O guloso consome muito mais do que o necessário para se satisfazer. Com o tempo ele precisará de cada vez mais alimento, por não ser capaz de resistir ao prazer mesmo sabendo os males que isso lhe causa. E assim, também acontece com os demais pecados capitais.

É possível não pecar?

Para responder a esta pergunta vou citar uma história que eu ouvi no site do Padre Paulo Ricardo.

Santa Terezinha quando tinha 5 anos de idade desejava dar um presente para o pai no dia dos pais. No entanto, ela não tinha dinheiro e não tinha para quem pedir. O pai dela sabendo disso, disse a ela que se ela lavasse a louça, ela receberia do pai algum dinheiro. Ela então lavou a louça porcamente (como qualquer criança da idade dela faria) e o pai, obviamente, precisou lavar depois.

O pai então foi a uma loja e avisou a lojista que no dia seguinte iria passar la com a sua filha para comprar um presente para ele. O pai pediu que a lojista ajudasse a pequena Tereza a escolher o presente que ele desejava ganhar dela mas sem deixar que Tereza soubesse. No dia seguinte o pai levou Santa Terezinha à loja e la Teresinha toda animada escolheu juntamente com a lojista um presente para o pai. O pai recebendo o presente da filha fez cara de surpresa e comemorou o dia dos pais com a sua filha. E sempre que uma visita chegava em casa ele mostrava o presente que a filha lhe havia dado.

Da mesma forma que Santa Terezinha do menino Jesus, para sermos capazes de amar precisamos pedir a Deus a ação da graça em nossas vidas. Nós precisamos pedir a graça por meio da oração, da meditação e do exercício contínuo das virtudes.

Virtudes Captais

Virtude é o que ordena o ser para a aquilo que lhe é próprio.

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Foto de Emre Kuzu no Pexels

Todos os pecados capitais possuem uma virtude oposta e são elas,

  1. a Humildade
  2. a Caridade
  3. a Bondade
  4. a Paciência
  5. a Castidade
  6. a Temperança
  7. a Diligência

As virtudes também são capitais ou seja a prática de uma atraem as outras.

Nem tudo é tão simples

Ao contrário dos pecados, as virtudes não configuram vício e por isso precisam ser constantemente exercitadas muitas vezes a contra gosto. É muito difícil ser paciente com o preguiçoso. É muito difícil ser bom para aqueles que nos fazem mal.

Eu não adquiro a virtude da paciencia tomando calmantes. Nem evito o pecado da gula fazendo dieta. Me torno paciente controlando minha irá. Me torno moderado controlando minhas vontades.

Como se isso não fosse complicado o suficiente, muitas fezes é difícil identificar se uma determinada ação é verdadeiramente virtuosa ou não. Quando eu proclamo meus atos de caridade não estaria eu cometendo o pecado da Soberba (Orgulho)? Quando eu pratico o bem para ao próximo esperando uma compensação não estou eu cometendo o pecado da Avareza?

É por isso que a meditação, a oração e o exercício das virtudes são essenciais para o crescimento na vida espiritual. Somente através da ação da Graça de Deus você será capaz de livrar-se do pecado. A pessoa virtuosa não torna-se virtuosa pelo próprio mérito pois até mesmo o mérito é uma ação da graça.

Sobre o sacrifício

Sacrifício = sacer(sagrado) + officium(oficio)

Ora, um indivíduo somente pode sacrificar aquilo que lhe pertence. Sacrificar uma ovelha dos outros não é um sacrifício.

“Melhor sobrar do que faltar”. Valorizamos o desperdiço e desprezamos a sacrifício. O ato de jejuar (jejum comida ou qualquer outro prazer) é visto de forma pejorativa como sendo algo antiquado, um puritanismo radicalmente excessivo. Mas, quando o sacrifício em todas as suas formas é efeito por amor existiria algum problema em sermos radicalmente amorosos?

Sobre a humildade

“Eu sou humilde”. A humildade, como qualquer outra virtude, não pode ser autodeclarada. Ser verdadeiramente humilde pode ser uma das virtudes mais difíceis de se alcançar. Como exercício para enriquecer nossa humildade, convido o leitor fazer um desafio. Experimente ficar um dia sem falar na primeira pessoa do singular. Depois que conseguir, tente ficar uma semana. Ė

Existe caridade voluntária?

A caridade somente é verdadeira quando ela vem do sacrifício voluntário. Se a caridade não vem do sacrifício, ela não é de fato uma caridade. Por exemplo, um filho recebe 20 reais de um pai para fazer um deslocamento de táxi. Ao fim da corrida, o taxista informa que o valor da corrida foi de 15 reais. O filho então decide deixar o troco de 5 reais para o taxistas. Veja isso não pode ser interpretado com um ato de caridade pois mesmo tendo sido um ato voluntário ele não foi um sacrifício. O problema de se fazer caridade sem sacrifícios é que surgem efeitos indesejados muitas vez incontroláveis. O possível benefício dessa caridade é supervalorizado em detrimento do maleficio que ela poderá causar.

Outro exemplo, é comum um político propor obras ditas “caridosas” usando o dinheiro de terceiros. Ações muitas vezes bem intencionadas acabam por criar problemas maiores do que elas virão solucionar. Por exemplo, considere um político que propõe uma ajuda financeira para a família de um presidiário sem identificar se a família do preso continua com as atividades ilegais. Ou quando um político propõe ajuda financeira para usuários de crack que se comprometerem em se reabilitar, mas que na verdade usam o dinheiro para sustentar o vício.

Na pedagogia, há o conceito de reforço positivo e o punição do negativo. Essa autoproclamada “caridade” é premiada com medalhas, troféus, filmes, documentários, etc. É desta forma que a falsa caridade configura vício. Ou seja, o comportamento errado é reforçado pela premiação. A caridade como ato voluntário não deve ser premiada.

Para finalizar a questão do sacrificio, devo lembrar que normalmente apenas lembrarmos do sacrifícios exercidos em nome de terceiros e esquecermos do sacrifício que devermos fazer para nós mesmo em nome de Deus. Exemplos: dormir na hora certa, comer menos do que gostaríamos, etc. Nestes casos o autosacrifício recebe o nome de penitência. Os cristão católicos, por exemplo, tem (ou deveriam ter) o hábito de fazer penitência às sextas feiras (ou mais comumente na semana santa) com o objetivo de desapego às coisas do mundo. Porém, muitos católicos cometem o erro de trocar um vício por outro e dessa forma a penitência perde o seu proposito proposito, pois neste caso o pecado da gula não foi combatido. A Penitência é uma importante arma contra os pecados.

Sobre a temperança

Poderia a anorexia ser classificada como o pecado da gula? Nós costumamos associar a gula como um excesso. Mas e a falta? Também não é uma desordem? Também não fará mal ao indivíduo?

Quem faz jejum peca? Claro que não. Jejum quando exercido como penitência é um ato de temperança. Mas a anorexia pode ser considerada um jejum? Todos devemos jejuar porém, se isso for feito de forma exagerada, poderá lhe causar uma úlcera e você estará cometendo o pecado de se matar. Então temos que ser moderados mesmo nas penitências. Se chicotear antes de dormir não vai fazer de você um santo.

Sobre a misericórdia

A misericórdia é sempre exercida por alguém em uma posição superior para alguém em uma posição inferior. Por exemplo, um rei é misericordiosos para com um prisioneiro de guerra ao poupar sua vida. Um credor é misericordioso para o seu devedor ao livra-lhe da dívida.

Sobre a caridade

Não confunda caridade com a misericórdia, ao menos no que diz respeito a ser exercida de cima para baixo. A caridade é uma via de mão dupla. Ela pode, e tem um significado ainda mais puro, quando é exercida de baixo para cima.

Usamos nossa falsa humildade como desculpa para não sermos caridosos. E ainda colocamos uma condição para sermos caridoso: “senhor se eu fosse rico eu ajudaria os pobres, senhor me ajude a arrumar um emprego e eu prometo que darei metade aos pobres…”.

Se formos pensar do ponto de vista financeiro é completamente irracional sermos caridosos com alguém que tem mais dinheiro do que nós mesmos. Sobre isso abro espaço para essa passagem:

Jesus viu algumas pessoas ricas colocando suas ofertas na caixa de contribuições do templo. Viu também uma viúva pobre colocando lá duas moedas pequenas. Então, disse:

Digo a verdade a vocês: Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros. Todas as outras pessoas fizeram as suas ofertas dando do dinheiro que tinham sobrando; ela, porém, na sua pobreza, deu tudo o que tinha para viver.

A caridade atinge seu significado mais puro quando exercida com o objetivo de desapego.

Muito além da questão financeira. Muitas vezes estamos triste, deprimidos e pensamos coisas como: “eu não posso fazer outra pessoa feliz porque eu mesmo sou infeliz, sou eu quem precisa de ajuda”. É muito mais fácil ajudar quando nossa posição esta acima daqueles que recebem a ajuda. Porém, é mais verdadeira aquela caridade exercida por uma pessoa infeliz que abre mão da sua dor por um momento para poder alegrar uma criança em um hospital cantando uma música do que aquela caridade que fazemos com as coisas que nós temos em fartura.

Séria permitido pecar para evitar um pecado maior?

Não conheço uma resposta adequada para esta pergunta. Porém, achei que seria interessante deixar questionamentos aqui.

Séria correto/aceitável um estudante que sofre bullying descontar sua frustração na comida (gula) para evitar e tenha um ataque de nervos e mate seus colegas?

Conforme já foi dito, não conheço resposta adequada para perguntas desta natureza. Por um lado, parece justo mentir para um filho sobre o gosto de um remédio para salvar-lhe a vida. Por outro lado, quando achamos que podemos justificar todos os nossos pecados com base num possível agravamento futuro, nós criamos um clima de libertinagem geral onde tudo é permitido e nada é obrigado.

A verdade é que todo pecado deve ser evitado do mais simples ao mais leve. Afinal, não existe vício moderado.

Agradeço ao leitor que chegou até aqui.

Sugestão de leitura: Castelo interior ou moradas de Santa

Uma resposta para “Virtudes e Pecados Capitais”.

  1. […] gordos é simples: gula é um pecado. No entanto, conforme eu já havia escrito em outra postagem (veja aqui), o pecado normalmente não está atrelado a um ato em particular. Para algo ser considerado pecado […]

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