Com a expansão do ensino superior dos últimos 30 anos, nunca antes na história do Brasil houve tantos jovens diplomados. No entanto, os mesmos não conseguem encontrar oportunidades de emprego e ao mesmo tempo as empresas dizem que falta mão de obra qualificada. Como chegamos a esta situação paradoxal?

O paradoxo

Ao mesmo tempo que vai se formando um exército cada vez maior de doutores desempregados, a indústria, comércio e o setor de serviço sofrem para encontra mão de obra qualificada. Este aparente paradoxo se justifica principalmente devido ao distanciamento das universidades com o mercado.

Muitos dos cursos ofertados tem uma base curricular que esta defasada com relação ao que o mercado exige. Há uma inércia chamada burocracia que dificulta a continua atualização das bases curriculares brasileiras para que esta acompanhe a velocidade com que as coisas mudam no mercado, principalmente no setor de tecnologia.

O professor tem que buscar meios de estar sempre adaptando o conteúdo de sua disciplina para as necessidades do mundo real. No entanto, nem sempre é do interesse docente iniciar estas adaptações, pois há na academia uma forte pressão para a publicação de artigos científicos. Há uma pressão para que o docente esteja publicando continuamente a fim de conseguir verba para suas pesquisas. E apesar dos avanços no número de publicações, não houve um retorno correspondente em aplicação tecnológica (assunto para outro artigo).

A falta da qualificação adequada

Em entrevista ao jornal valor econômico, o diretor geral do IMPA falou sobre a necessidade de aproximação entre as universidade e a indústria. É necessária uma adaptação para as necessidades que o mercado de trabalho vem desenvolvendo.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) ), há 845 mil empregos no setor de Tecnologia da Informação no Brasil, e a demanda projetada até 2024 tende a crescer em 70 mil profissionais por ano. Porém, o ensino superior atualmente somente é capaz de formar 46 mil pessoas com o perfil necessário para atender essas vagas. Segundo a Brasscom, o mercado de TI pode apresentar um déficit de 290 mil profissionais em 2024. As instituições de ensino superior, tem que oferecer mais vagas de acordo com o critério da empregabilidade.

Com a dificuldade de encontrar mão de obra adequadamente capacitada, as empresas passaram a aceitar profissionais egresso de cursos técnicos ou mesmo de áreas pouco correlacionadas com a necessidade da vaga e proporciona-lhes um treinamento adequado para as necessidades da empresa. Essa conta acaba sendo repassada ao valor do produto/serviço da empresa, e/ou no próprio salário do futuro empregado.

O excesso de mão obra especializada

A crise econômica acarretou em cortes de gastos nos setores públicos e privados o que intensificou ainda mais os números de mestres e doutores fora do mercado de trabalho. Os motivos pelos quais o mercado não consegue absorver estes profissionais se deve ao tipo de formação e orientação aplicada nas universidades. O interesse da academia esta em desenvolver habilidades relacionadas exclusivamente ao mundo científico, que é sim muito importante mas, que não considera a possibilidade de o profissional não se tornar um professor, ou por falta de interesse ou por falta de oportunidades. Doutores não são treinados para atuar como empreendedores ou como colaboradores no setor privado.

Elon Musk, o bilionário CEO da Tesla e da Spacex, quando perguntado sobre a necessidade de um candidato a uma vaga na sua empresa precisar ter um doutorado, ele afirmou que não seria preciso sequer ter ensino médio, desde que o candidato possua um forte conhecimento de Inteligência artificial. Empresas tem interesse na experiência do candidato e não no tamanho do seu currículo.

Nos últimos anos o Brasil tem feito (felizmente) uma madura discussão sobre reformas necessária ao pais. Fizemos a reforma previdenciária, e estão discutindo as reformas tributárias além de uma reforma administrativa. Um outra discussão que precisaremos fazer é a reforma educacional. Enquanto o legislativo e executivo trabalham nesses problemas, professores e alunos precisam repensar a maneira como exercem suas funções pensando sempre a longo prazo.

Referências:

https://impa.br/noticias/no-valor-viana-fala-sobre-matematica-e-mercado-de-trabalho/ https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,o-paradoxo-do-desemprego,70002818428 https://www.istoedinheiro.com.br/o-paradoxo-do-emprego/ https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/03/10/interna-brasil,741968/desemprego-entre-mestres-e-doutores-no-brasil-chega-a-25.shtml https://diariodeuberlandia.com.br/coluna/3223/doutores-estao-desempregados-vamos-mudar-isso

Recomendação de Leitura: Direitos máximos, deveres mínimos: O festival de privilégios que assola o Brasil.

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