Um ditado romano muito usado no meio jurídico afirma que aquilo que abunda não prejudica (do Latim Quid Abundat Non Nocere). Aparece normalmente quando mencionado o excesso de redundâncias nos textos ou quando se evoca um cauteloso processo de coleta de evidências.
Um exemplo torna o conceito mais simples. Considere o diálogo entre João e Maria sobre uma prova da faculdade. João reclama: “Eu estudei um monte de coisas que não caíram na prova”. E Maria responde: “O que abunda não prejudica, afinal você estava estudando”.
“Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia.
Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda”.
Mateus 7:26,27
Em alguns contextos essa frase até faz sentido. A formiga trabalhadora da história infantil mostrou para a cigarra vadia a importância do trabalho árduo. Chegou o inverno e a formiga estava preparada com suprimentos. A cigarra serelepe, que seguia a filosofia do “só se vive uma vez” (ou equivalentemente, a heresia do “Deus providenciará”), vivia cada dia procurando fazer sempre o mínimo nas obrigações e o máximo nos prazeres. O resultado foi que o esperado inesperado aconteceu. A cigarra passou fome e viu sua vida depender da formiga (justamente aquela que a cigarra dizia não ter vida por trabalhar demais). Da mesma forma, os porquinhos que construíram a casa de palha e madeira precisaram da ajuda do porquinho que tinha a casa de tijolos, pois foi o único que procuro fazer o melhor trabalho possível na construção de sua casa.
“Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada.”
Mateus 24:43,44
É bem verdade que precisamos estar preparados para as intemperes. Afinal, o incerto é certo. No entanto, o exato oposto em excesso também é prejudicial. Por exemplo, João fala para Maria que vai dar uma festa de formatura e convida 20 amigos. João comprou dez centos de salgados. Maria então pergunta: Dez centos não é demais? E João responde: “melhor sobrar do que faltar”. Resultado: João gastou mais dinheiro do que era necessário, estragou comida e se viu forçado a comer mais do que podia, prejudicando a própria saúde, por mera futilidade.
De nada adianta o urso acumular gordura para sobreviver ao inverno,se ele tiver um ataque cardíaco devido ao acumulo de gordura.
Um dos concelhos que São Tomaz de Aquino dava para aqueles que desejavam viver uma vida intelectual e virtuosa era o de evitar excessos e polêmicas (a única ação que não é preciso moderação é o amor).
O princípio correto, no uso das coisas, é servirmo-nos delas de acordo com sua finalidade, e na medida à qual se destinam, e usá-las de acordo com a necessidade que temos delas e conforme o deleite que nos proporcionam.
João Calvino






Deixe um comentário