“Não devemos julgar.” Essa frase é uma má interpretação de um trecho picotado da bíblia onde diz “não julgueis para não seres julgado”. Infelizmente está ideia já está tão enraizada na cultura que poucos percebem (ou aceitam) o desvirtuamento da ideia original.

E como podes dizer a teu irmão: Permite-me remover o cisco do teu olho, quando há uma viga no teu?

Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão

Mateus 7:3-4

A recomendação pelo não julgamento é um erro em todos os sentidos. Está errado teologicamente, está errado logicamente, está errado semanticamente e está errado sociologicamente.

“Não julguem, para que vocês não sejam julgados.” Essa frase é normalmente seguida de um erguer de sobrancelhas e do apontar do dedo indicador para cima, como se a pessoa estivesse querendo por um ponto de exclamação imaginário. É inconcebível que a frase acima mencionada possa ser interpretada como uma proibição ao julgamento.

A bíblia não proíbe o julgamento. Na verdade o julgamento é até recomendado como na passagem:

Julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende vos de toda forma de mal.

Tessalonicenses 5:21-22

A proibição ao julgamento cria uma sociedade incapaz de reconhecer a verdade, pois segundo essa lógica, todos estão certos segundo seus “pontos de vista”. Desta forma, a verdade não existe.

Além disso, abominar o julgamento é por si só um julgamento. Portanto, é ilógico dizer que não devemos julgar.

Somente abominá o julgamento aquele que tem medo de ser julgado. Seja porque tem medo da punição ou porque teme que o julgamento não seja justo.

O texto bíblico, que foi mal interpretado, é tão claro que embora já fosse auto suficiente, ele continua com uma auto explicação : “Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.”

Essa passagem não tem como personagem central o julgamento. O personagem central dessa passagem é a justiça e o que um julgador precisar ser para fazer um julgamento justo.

Para que um julgamento seja justo precisamos saber o que está sendo julgado. Se o que está sendo julgado é a pratica de um crime, então espera-se que o juiz não seja criminoso. Não é esperado que um traficante julgue outro traficante de forma justa, pois pode estar protegendo um colega ou destruindo um rival. Por outro lado, se o que esta sendo julgado é um desempenho, então espera-se que o juiz seja perito no que julga. É normal os juízes em competições de talentos serem ex-praticante daquela modalidade. Não esperaríamos um julgamento justo de um padeiro julgando uma competição de skate.

Aproveito esse tema para alerta sobre o autojulgamento. Ora, se eu julgo meus próprios erros, poderei eu me penalizar como penalizaria o outro? Se eu julgo meu próprio desempenho, negarei a recompensa a min quando, após muito esforço, eu falhar?

Devemos entender que o julgamento é sempre bom. O ruim é a ausência de julgamento e/ou o julgamento injusto (o que não é um julgamento por definição).

Conclusão

De tudo isso podemos concluir que precisamos julgar e sermos julgados. Mas ao julgar que julguemos com justiça. E ao sofrermos uma injustiça? Bom, nesse caso alertemos o julgador de seu erro para que não se repita com outros.

Anexo

Uma vez o julgamento tendo sido feito, o que fazemos com ele? Podemos aplicar nós mesmo a justiça? Sim, podemos e em muitos casos devemos. Mas, tem uma condição. Antes de lhe dizer qual é essa condição leia o parágrafo abaixo.

De acordo com a lei de Moisés, uma mulher adultera deveria ser apedrejada. Na passagem bíblica a que me refiro, Jesus não contrariou a lei. Eles apenas exigiu que a aplicação da lei precisaria ser aplicada com justiça, por indivíduos que não são pecadores.

Portanto, a condição para a aplicação da lei (posterior ao julgamento) é ser isento de culpa.

Aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra.

— João 8:7

Leitura complementar: https://padrepauloricardo.org/blog/nao-julgueis

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