A discussão sobre a autoaprovação nas escolas públicas brasileiras vai além de uma simples análise de indicadores. Trata-se de um fenômeno que reflete escolhas orçamentárias e de gestão, colocando a prioridade em números e repasses financeiros, ao invés de investir na qualidade do aprendizado e na formação cidadã dos alunos.
O Incentivo Financeiro por Trás da Autoaprovação
A autoaprovação está diretamente ligada ao modelo de financiamento das escolas públicas. Estados e municípios recebem verbas federais com base em indicadores como taxas de aprovação e frequência escolar. Isso cria um incentivo perverso: manter os alunos aprovados, independentemente de seu desempenho acadêmico (ou frequência escolar), para garantir o fluxo de recursos. Essa lógica transforma a educação em um jogo de números, onde a qualidade do ensino é relegada a segundo plano.
Consequências para a Formação e o Futuro dos Educadores
A política de autoaprovação tem efeitos devastadores a médio e longo prazo. Quando alunos avançam de série desprovidos do domínio dos conteúdos essenciais, criam-se lacunas de conhecimento que se acentuam com o tempo. Um aspecto especialmente preocupante é que esses alunos, desprovidos de uma base sólida, podem se tornar os futuros professores do país. Essa sucessão perpetua um ciclo de baixa qualidade na educação. Se os educadores não vivenciaram uma aprendizagem consistente, as dificuldades se agravam a cada nova geração, comprometendo a capacidade de formar profissionais críticos e capacitados para enfrentar os desafios sociais e econômicos do Brasil.
A Responsabilidade pelo Projeto
Embora a aprovação automática já existisse desde 1996, a prática ganhou força durante o período em que Fernando Haddad atuou como Ministro da Educação, no governo Dilma Rousseff. Embora a proposta inicial tivesse por objetivo reduzir a evasão escolar e promover a inclusão, a metáfora dos “números” acabou se sobrepondo à qualidade do ensino. O aprendizado real foi negligenciado em prol de indicadores que facilitaram o fluxo de verbas. Este modelo de gestão, que privilegia os repasses financeiros, é o grande responsável por um sistema que forma educadores cada vez menos preparados, alimentando um ciclo vicioso de deficiências educacionais.
Reflexões Finais
É urgente repensar a política de autoaprovação que tem causado danos profundos à qualidade da educação. Investir em processos avaliativos robustos, que realmente mensurem o aprendizado, é essencial para quebrar o ciclo que ameaça a formação não só de alunos, mas também de futuros professores. É hora de priorizar a qualidade do ensino e o aprendizado real dos alunos, em vez de focar apenas em números.
Para saber mais:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c72y0zqnvk1o






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