Muitos estudantes sentem que estão correndo em uma esteira: leem centenas de páginas, assistem a horas de videoaulas, mas, ao final da semana, a sensação é de que pouco restou. O erro não está no esforço, mas na arquitetura do estudo. O aprendizado verdadeiro é um processo de quatro etapas fundamentais: Ler, Meditar, Guardar e Praticar.

​Hoje, quero focar na etapa que a maioria de nós ignora: a Meditação.

​O que é Meditar nos estudos?

Diferentemente do que vemos nos desenhos, filmes e séries, meditação intelectual não é “esvaziar a mente”, mas sim preenchê-la com propósito. Meditar é o ato de relacionar. É o processo de pegar a informação nova e buscar um “gancho” naquilo que você já sabe.

​É o momento em que você para de receber passivamente e começa a perguntar ao texto:

  • “Como isso se encaixa com o que aprendi ontem?”
  • “Qual é a hierarquia dessa informação?”
  • “Onde isso se aplica na vida real?”

​A Tirania da Objetividade

Por que negligenciamos essa fase? A resposta está na pressão dos prazos apertados de vestibulares e concursos. O caráter objetivo das provas nos condiciona a focar apenas na Leitura (coleta de dados) e na Memorização (estoque de dados).

​Tratamos nossa mente como um armazém de caixas fechadas, quando ela deveria ser uma rede de conexões vivas. Se você apenas lê e guarda, você tem informação. Se você medita, você tem conhecimento.

​A Sabedoria de A. D. Sertillanges

​Em sua obra clássica, A Vida Intelectual, o Padre A. D. Sertillanges (seguindo os passos de Santo Tomás de Aquino) nos alerta sobre o perigo de ler demais e pensar de menos. Ele afirma que a leitura deve ser moderada para dar lugar à reflexão.

​”A leitura deve ser como o alimento; mas a meditação é a digestão. Sem a digestão, o alimento não se torna parte do nosso corpo; sem a meditação, a leitura não se torna parte da nossa inteligência.”

​Sertillanges ensina que a inteligência precisa de silêncio e de “mastigação”. Para ele, o estudo não é uma corrida de velocidade, mas um exercício de aprofundamento. Um único parágrafo meditado e conectado à sua própria experiência vale mais do que dez capítulos lidos com pressa apenas para cumprir um cronograma.

​Um Exemplo Prático

​Imagine que você está estudando o conceito de Inflação na Economia.

  • Ler: É decorar que os preços sobem e o poder de compra cai.
  • Meditar: É lembrar daquela vez que você foi ao mercado e percebeu que o mesmo dinheiro não comprava as mesmas coisas de um ano atrás. É relacionar a inflação com a lei da oferta e demanda que você viu na semana passada.

​Nesse instante, a “inflação” deixa de ser uma palavra no papel e se torna uma categoria na sua mente.

​Conclusão

​Se você quer que seu estudo dure mais do que o tempo de uma prova, pare de ser um colecionador de páginas lidas. Torne-se um arquiteto de ideias.

​Na próxima vez que terminar uma leitura, não feche o livro imediatamente. Gaste 10 minutos em silêncio tentando conectar o que você leu com o mundo ao seu redor. Sua memória — e sua inteligência — agradecerão.

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