Artigo de Opinião

O ex-ministro da educação Abraham Weintraub, durante sua gestão, já havia posto o tema na mesa: “O Brasil tem doutor demais”, disse ele, à época. “Já batemos a meta do doutorado há tempos. Quando você bate uma meta, direciona as verbas para as outras que ainda estão aquém”.

Qual o problema de termos muitos doutores? A primeira vista, nenhum mas, quando consideramos a questão do ponto de vista daquele que pleiteia um doutorado, o problema está na motivação para a obtenção deste título: a (falsa) promessa de ascensão social. Do ponto de vista do contribuinte, a situação é igualmente injusta, pois, este contribui para a formação de um indivíduo que por falta de oportunidade acaba por não exercer a função a qual tem formação. A super valorização de diplomas, em detrimento da capacidade real de atuação dos profissionais, cria essa frustração de ter uma mão de obra altamente especializadas ociosa.

O diploma deixou de ser um papel com a função de certificar que aquele profissional tem capacidade para exercer uma determinada arte, e passa a ter a função de ser uma permissão para o indivíduo poder exercer aquele determinado ofício (principalmente no serviço público). Uma das possíveis causas desse fenômeno é a enorme disparidade entre os benefícios do serviço público frente ao privado (que tende a ser menos exigente com títulos e mais exigente com experiência de trabalho). Com salários em média 3 vezes maiores (nas instituições federais) do que os do setor privado na mesma função, férias maiores, estabilidade, entre outros privilégios tornam o concurso público a meta de vida da maioria dos acadêmicos. Outra possível causa é a burocracia (excesso de regulamentação) que aumenta o tempo e os custos de novas contratações, além de limita a capacidade de atuação de profissionais.

Apesar da promessa de ascensão social com o acréscimo de mais um título (especialização, aperfeiçoamento, mestrado e doutorado), há muito anos o investimento que o individuo faz em uma pós-graduação tem demonstrado (em média) não ter rendimentos correspondentes. Em alguns países como a Austrália a aquisição de diplomas de nível superior não corresponde diretamente no aumento da empregabilidade e às vezes até dificulta. Como foi amplamente divulgado pela imprensa em 2018, pelo menos 25% dos brasileiros com doutorado e 35% dos que têm mestrado estão desempregados, revelavam os dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e é bastante provável que atualmente (janeiro de 2021) estes números tenham aumentado.

Muitos estudantes fazem curso superior apenas para justificar para os seus pais que estão estudando ou apenas para satisfazer o próprio ego e poder dizer que fizeram curso superior. Direito, por exemplo, é um dos cursos mais visados por se considerado culturalmente como um símbolo de status. Segundo o Conselho Nacional de Justiça o Brasil tem mais cursos de advocacia do que países como China, EUA e a Europa inteira. A respeito disto, o também ex-ministro da educação Aloizio Mercadante declarou: “Nós temos um excesso de advogados. Quando um país começa a crescer, precisa de engenheiros”.

Faço minhas as palavras de Elon Musk, o bilionário CEO da Tesla e da Spacex, que certa vez deu a seguinte declaração “Acredito que faculdades são basicamente para se divertir e fazer tarefas, e não para o aprendizado”. Geralmente, a academia não tem por objetivo formar indivíduos para o exercício de uma profissão desejada pelo indivíduo. Fora da bolha estatal, o mundo real exige experiência e qualificação os títulos ficam em segundo plano. Ter títulos sem ter desejo e paixão pela arte correspondente é mero exercício de vaidade. As academias formam generalistas que sabem um pouco de tudo, mas assim como os patos que nadam, voam e andam não são bons em nada.

Avaliação: 1 de 5.

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A sabedoria das multidões

Direitos máximos, deveres mínimos: O festival de privilégios que assola o Brasil

2 respostas para “A supervalorização dos títulos acadêmicos”.

  1. Ótimo texto para se ler.
    Traz uma perfeita finalização: “Ter títulos sem ter desejo e paixão pela arte correspondente é mero exercício de vaidade. As academias formam generalistas que sabem um pouco de tudo, mas assim como os patos que nadam, voam e andam, não são bons em nada.”

    👏👏👏👏

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    1. Avatar de ericcarvalhorocha
      ericcarvalhorocha

      Obrigado.

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