A bíblia está cheia de história de milagres como a cura de doenças, eventos climáticos atípicos e até mesmo a ressurreição dos mortos. Esses milagres, normalmente, provocam surpresa, admiração e, em alguns casos, espanto ou medo (pois podem ser associados a algo maligno).
Para os mais céticos, milagres são fenômenos que ainda não têm explicação conhecida, e que as pessoas religiosas atribuem a Deus. Um argumento frequentemente levantado é o de que os milagres mais incríveis (incrível aqui foi usado no sentido de não crível) ocorreram sempre num passado muito distante como, por exemplo, quando Jesus caminhou sobre as águas.
Ora, se alguém aparecesse andando sobre as águas hoje em dia, violando as leis da física, a primeira coisa que vamos nos perguntar é qual o truque? Onde está a trapaça? Ė mais fácil acreditar que pessoas foram enganadas do que acreditar que as leis da física foram violadas.
O argumento dos céticos já inicia errado. Não é verdade que os milagres pararam de acontecer depois que a bíblia foi escrita. Muito pelo contrário, eles continuam ocorrendo e muitas vezes nem percebemos. Sim, eles acontecem. Como, por exemplo, o milagre da liquefação do sangue de São Januário.

A natureza do milagre não esta limitada somente à não-existência da causalidade. Um milagre pode ser reconhecido, também, pela sucessão de fatos improváveis que, mesmo aparentemente descorrelacionados, contribuem para um mesmo todo. Neste caso, o milagre tem uma aparência de um fato acidental.
Por exemplo, há uma lenda de que a história do mundo poderia ter sido completamente diferente se os botões usado para prender as fardas dos soldados de napoleão não fossem feitos de estanho. Segundo essa lenda, a razão por trás do fracasso da expedição napoleônica que pretendia invadir a Rússia se deve ao fato de que o estanho se esfarela em temperaturas muito frias. Isso fez com que os soldados ficassem mais expostos ao frio do que Napoleão poderia ter previsto. Independentemente desta história ser verdadeira ou não, o que importa é o quanto eventos acidentais aparentemente tão insignificantes podem produzir uma mudança tão brusca de resultado.
Como identificar um milagre?
A primeira coisa que é feita antes de reconhecer algo como miraculoso consiste em reconhecer se o fenômeno tem alguma causa natural. Se existir uma causa natural, passamos a buscar mensurar a raridade do evento. Se, por outro lado, não for possível reconhecer causa natural, devemos nos perguntar: não existe causa natural ou apenas não somos capazes de reconhece-la?
Considere, por exemplo, a investigação uma possível cena de crime. O perito precisa juntar uma sucessão de fatos para contar uma história do ocorrido. Cada fato isolado pode ser analisado por uma dada área da ciência como, por exemplo, o perito pode usar a física para identificar a arma do crime e o médico legista pode dizer que ferimentos levaram o individuo a morte. Mas, não existe uma ciência que possa criar uma relação causal para o corrido como um todo. O trajeto da bala que matou a vitima e a intenção de realizar o crime não são conectadas racionalmente, mas apenas acidentalmente.
Portanto, não se pode buscar racionalidade em atos intrinsecamente acidentais embora estes sejam formados pela sucessão de eventos racionais (desconexos).
Então, como provar que algo é um milagre? Se, o milagre está na sucessão de eventos raros, como distingui-los de uma aleatoriedade qualquer? Por exemplo, seria o surgimento da vida um milagre ou apenas uma sucessão de eventos extremamente improváveis? E se, por outro lado, o milagre está na não causalidade de um evento, como provar que algo não foi causado? Por exemplo, como provar que Jesus transformou água em vinho se essa mudança não é provável ( provável no sentido de por a prova)?
Simples. O milagre conta uma história. Se fosse apenas uma aleatoriedade ou uma mágica (sem truque), não haveria a transmissão de nenhuma mensagem.

Qual a função dos milagres?
Santo Agostinho salientou que o mais importante no milagre é a revelação que ele trás e não o aspecto transcendental envolvido. Portanto, o milagre convida o homem a elevar-se ao entendimento do que é transcendente.
Justamente por representar um sinal que a função própria do milagre é orientar os designíos de Deus. O milagre é como o farol de um carro, ele ilumina o caminho. Mas, se você prestar mais atenção na luz do farol do que no caminho iluminado, o farol perderá a função.
Um dos entendimentos mais populares que temos sobre os milagres diz que estes são um fato extraordinário visto como um sinal da manifestação da vontade divina. Uma resposta de Deus a algum pedido ou em respostas há algum ato humano. Por isso, é comum populares declararem a ocorrência de um milagre quando são livrados de algum mal que poderia ter ocorrido (por exemplo, uma colisão de transito, uma cirurgia arriscada, et cetera).

Quem pode operar os milagres?
Milagres são ações próprias de Deus. Nenhum homem pode operar milagres, apenas pode ser instrumento para o milagre caso receba a graça para tanto.
O milagre é necessariamente um fato sem explicação conhecida?
Há, desde os tempos de Pitágoras (e possivelmente até mesmo antes disso), um entendimento de que a natureza é regida por leis bem definidas e atemporais (vou chamar essas leis de “verdades naturais”). A esta crença damos o nome de determinismo.
O determinismo implica que, se for possível reconhecer e analisar todas as leis aplicáveis a um ser, a princípio, séria possível predizer todo o futuro (bem como reproduzir todo o passado) desse ser. Por exemplo, é possível saber exatamente quais pinos do boliche serão derrubados, ou quais bolas de sinuca irão cair (desde que se tenha controle total da velocidade e direções do lançamento).
Apesar do que se acredita popularmente hoje pelos leigos, São Tomaz de Aquino já havia demonstrado que nenhuma verdade da fé poderia contradizer uma verdade natural. Todas as verdades naturais teriam sido postas no mundo por Deus.
Mas, se Deus pois leis inalteráveis no mundo e se as leis descrevem perfeitamente o comportamento de um ser, então estes seres (incluindo nós mesmos) não são dotados do livre arbítrio (o que é o oposto do que ensina a igreja). Nós seriamos como as bolinhas de sinucas pré-determinadas a cair no buraco, não escolhemos o nosso estado futuro. A solução para essa aparente contradição merece uma postagem própria e, por isso, deixarei para outro momento.
O que importa para o contexto desta postagem é que somos verdadeiramente livres e que as leis naturais não são tudo o que representa o nosso ser. Desta forma, e também pelo que foi acima exposto, podemos afirmar não ser verdadeira a tese de que algo deixa de ser considerado miraculoso quando passa a ser compreendido cientificamente. Muito menos duvidosos são os casos que de fato não podem ser compreendidos a luz da razão.

Conclusão
A quantidade de milagres devidamente investigados pelo vaticano são uma porção infima se comparados aos milagres menos populares. Cabe a você tentar entender que mensagem Deus quiz passar com o ocorrido. Isso é muito mais importante do que o próprio milagre.
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